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Writer's pictureJosé Prado

Parabéns, Talita!

Updated: May 24, 2021

Hoje uma de nossas acolhidas completou 40 anos. Pobre, cristã, aos 16 anos foi sequestrada, vendida e forçada a casar-se com um desconhecido de uma grande, rica e influente família. Do casamento forçado lhe nasceram dois filhos. Na sua cultura as mulheres não têm direitos, descanso ou regalias. Proibidas de estudar, são servas submissas de seus senhores maridos. Mas alguns senhores são cruéis. Violentos.

Num ímpeto de coragem e desespero conseguiu fugir. Acolhida por uma instituição, entra na justiça e pede a guarda dos filhos. Um pedido inalcançável, impossível. Mas contrariando toda a lógica, ela ganha a causa. No dia da entrega das crianças, na frente do fórum, a poucos de ter sua vitória, os filhos são "sequestrados", diante dos policiais que, inertes, somente observaram.

Por tudo isso, e principalmente por ser cristã, ela é jurada de morte. Milícias são mobilizadas. Seu caso noticiado, sua cabeça a prêmio vale uma enorme recompensa. Sua vida resume-se em esconder-se e fugir. Privando-se de tudo, vagueia de uma vila a outra. Não tendo onde mais se esconder, uma vez mais, num misto de coragem e desespero, consegue fugir do país.

Nesse novo país o instituto do refúgio não é reconhecido, portanto, depois de três meses, ela tornou-se uma imigrante irregular. Se encontrada pela polícia, será presa numa detenção famosa por sua crueldade. Mas ela vai à luta. Contata o ACNUR, apresenta seu caso e depois de meses é julgado e deferido. Ela é agora uma refugiada de carteirinha e candidata ao reassentamento num outro país. Pena que isso não regularize sua situação migratória ali onde está. Ela continua a viver em constante tensão e medo. O reassentamento talvez nunca ocorra...

Os anos se passam, enfermidades físicas e emocionais se manifestam. Tornam-se crônicas. Ela batalha. Insiste. Sua fé no Cristo perseguido lhe sustenta. Mora em cortiços insalubres. Faz comida, limpeza, trabalha de vendedora... e de forma clandestina, sobrevive.

Certo dia, há 3 anos, recebemos um e-mail relatando seu caso. “Vocês podem ajudá-la”? Desde então o ABUNA lhe acolheu integralmente. Assumimos sua guarda. Protegemos. Oferecemos uma casa descente, comida, roupa, móveis, remédios... Por duas vezes solicitamos ao governo brasileiro que nos permitisse acolhê-la aqui. Não obtivemos resposta. Nenhuma resposta em 3 anos. Mas não desistimos.

Hoje ela recebeu uma festa surpresa. Festa de verdade, com enfeites, comida de seu país, bolo, pizza, presentinhos... Palavras de carinho, orações de gratidão por sua vida. Em meio a tantas emoções ela exclama: "Essa foi a primeira festa de aniversário da minha vida"! 40 anos...

Esse é só mais um reflexo de anos de pobreza, privações, perseguições, humilhações, de ausência de seus filhos, pais, irmãos. Mas também são anos de muita luta, garra e busca de dignidade. Perseverança. Resiliência. Paciência. Fé. Amor ao seu Salvador e Senhor.

Hoje, em meio a esse mar de dor e desesperança, quando muitos consideram jogar a toalha, essa guerreira nos deu esse presente. Uma lição de incalculável valor. Ainda não chegou a hora de abandonar a luta. Podemos, mesmo em nossas fraquezas, com nossos poucos pães e peixes, ser resposta da oração de alguém.

Obrigado, Talita, por insistir, por não desistir, não se deixar amargar. O amor e a esperança são, sim, mais fortes que o ódio, a injustiça, a indiferença e até a morte.

A você que nos acompanha, intercede e reparte o pão conosco... Saiba que são seus recursos e orações que sustentam a Talita e muitos outros. Pra ela, você é a prova concreta de que o Pai se importa, e está presente, e cuida, e celebra! Hoje ela ouviu a voz DELe através da sua voz:

Parabéns, minha filha amada. Eu me alegro muito em você!

Que o amanhã nos traga mais justiça, paz e esperança, pois tão certo como o sol nascerá, suas misericórdias se renovarão e estarão sobre nós.


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